A pressão do governo para evitar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que apure suspeitas de corrupção no Ministério da Educação ganhou o reforço de integrantes da bancada evangélica, aliada da gestão de Jair Bolsonaro. Parlamentares que assinaram a lista foram procurados nos últimos dias por integrantes do grupo com o recado de que o apoio à criação do colegiado para investigar a atuação de pastores lobistas na pasta poderia lhes custar votos no segmento religioso. Dos 81 senadores, ao menos 31 devem se candidatar em outubro.
Um dos que atuaram foi o deputado Cezinha de Madureira (PSD-SP), vice-líder do governo no Congresso e ex-presidente da Frente Parlamentar Evangélica. Em conversas com senadores, ele argumentou que uma CPI do MEC tem o potencial de expor as igrejas por meio de dois pastores que não representam o segmento. Lembrou também da força do eleitorado evangélico no país e que a investigação poderia ganhar tons de intolerância religiosa, o que teria alto custo nas urnas.
O foco do colegiado, caso seja instalado, é a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados por prefeitos de cobrar propina em troca de facilitar a liberação de verbas do Ministério da Educação. Mesmo sem cargo no governo, os dois religiosos tinham trânsito livre com o ex-ministro Milton Ribeiro, que também é evangélico. Em áudio divulgado pelo jornal “Folha de S.Paulo”, o então titular da pasta afirma que, a pedido de Bolsonaro, priorizava prefeituras cujos pedidos eram intermediados pelos religiosos.
O atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), nega veementemente que haja uma ação orquestrada do grupo para derrubar a CPI. Ele admite, porém, que o eventual apoio ao colegiado vai gerar um ônus eleitoral aos parlamentares.
— Claro que o senador que assinar vai ter desgaste com o segmento. O eleitor evangélico já entendeu que não é justo penalizar todo o segmento por causa do erro de dois ou três pastores. — afirmou o deputado, para quem é a CPI é eleitoreira. — Se eu fosse senador, não assinaria. A Polícia Federal, que tem mais competência para tal, já está investigando. CPI criada a seis meses da eleição só serve para fazer politicagem, atingir a imagem dos evangélicos e, consequentemente, do governo.
Como mostrou o GLOBO no sábado, o Palácio do Planalto montou uma força-tarefa para debelar a iniciativa. Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, convocou integrantes do governo e aliados para entrarem em cena, pedindo que eles fizessem contato com os senadores para que tirassem os nomes e convencessem outros a não encampar a ideia de Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do requerimento da comissão. Para sair do papel, a CPI precisa de ao menos 27 assinaturas.
A iniciativa surtiu efeito e, desde sexta-feira, três retiraram o apoio: Weverton Rocha (PDT-MA), Styvenson Valentin (Podemos-RN) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR). Uma quarta, a senadora Rose de Freitas (MDB-ES), afirmou que não havia autorizado a inclusão de seu nome na lista.
O GLOBO apurou que Weverton foi um dos que foram procurados pelos evangélicos. Pré-candidato ao governo do Maranhão, o senador participou de evento ao lado do pastor Gilmar em março deste ano, em São Luís, quando enalteceu o trabalho do religioso. O pedetista afirmou na sexta-feira ter pedido para retirar seu nome da CPI, mas não justificou o motivo. Procurado ontem, não respondeu.
De O Globo