O presidente Jair Bolsonaro (PL) nomeou na quinta-feira (21) ao cargo de desembargador do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da 22ª Região, sediado em Teresina, o advogado Téssio da Silva Torres.
Ele é cunhado de Eduardo José Barros Costa, conhecido como “Eduardo DP” ou “Eduardo Imperador”, empresário preso no dia anterior (20) em investigação da Polícia Federal sobre fraudes na Codevasf.
Turbinada por bilhões de reais em emendas parlamentares, a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) é uma estatal federal entregue por Bolsonaro ao controle de partidos do centrão em troca de apoio político.
Na apuração da PF, Costa é citado como “cônjuge” de Larissa Torres Costa, irmã do advogado que irá atuar no tribunal com sede em Teresina. O novo desembargador também defende o empresário preso em pelo menos uma ação trabalhista no Maranhão.
Neste mesmo caso, Torres é advogado da Construservice, empresa da qual Eduardo DP é sócio oculto. O empresário preso e o advogado aparecem juntos em uma foto de setembro de 2016 publicada nas redes sociais de Torres.
O cunhado de Eduardo DP foi escolhido por Bolsonaro ao TRT na vaga reservada para a advocacia. A lista tríplice de candidatos foi aprovada no começo de julho pelo tribunal.
Procurado, o Palácio do Planalto não comentou sobre a escolha. Torres desligou o telefone após ser questionado pela reportagem sobre a ligação com Eduardo DP. A defesa de Eduardo DP disse não ter nada a declarar sobre a escolha do advogado.
Costa foi preso pela PF durante a Operação Odoacro, deflagrada no dia 20 de julho, que apura suposto desvio e lavagem de dinheiro de verbas da Codevasf. Policiais federais apreenderam na ação cerca de R$ 1,3 milhão em dinheiro, além de itens luxuosos, como relógios importados. Larissa Torres não foi alvo das buscas e apreensões.
A PF levantou indícios de fraudes em licitações feitas em convênios da estatal com prefeituras do Maranhão. Isso porque as participantes das disputas vencidas pela Construservice seriam empresas com laranjas ligados a DP.
Na investigação, os agentes destacam revelação da Folha, publicada em maio, de que o empresário foi recebido pelo presidente da empresa pública, Marcelo Moreira, mesmo sem constar no quadro societário da empreiteira.
Os agentes da Polícia Federal suspeitam que o grupo de Costa atua com seis empresas de fachada e seis laranjas. Também avaliam que algum servidor da Codevasf participa do suposto esquema.
A investigação ganhou fôlego após a Folha revelar o encontro de Costa e Moreira, além de mostrar que a empresa, a segunda que mais recebe verbas da companhia sob Bolsonaro, entregou obras precárias.
A defesa de Eduardo Costa afirma que a prisão dele é ilegal e desnecessária.
Da Folha de São Paulo