O Ministério Público do Estado do Maranhão pretendia sortear diversos vouchers para um motel em São José de Ribamar como brinde para procuradoras, promotoras, servidoras e estagiárias do órgão durante a programação do Mês da Mulher, evento organizado pelo órgão para homenagear as mulheres pelo Dia Internacional da Mulher, celebrado no dia 8 de março.
A distribuição do brinde disforme para as atribuições constitucionais da instituição, porém, acabou sendo cancelada nessa quinta-feira (7) pelo procurador-geral de Justiça, Eduardo Nicolau, após o ATUAL7 questionar o chefe do MP-MA a respeito do assunto.
O convite para o sorteio, com link para formulário de inscrição para quem quisesse participar do evento, foi enviado na última quinta-feira (5) aos contatos eletrônicos institucionais do MP maranhense, pelo próprio gabinete de Nicolau. O ATUAL7 obteve acesso exclusivo à cópia do e-mail.
Do total de 19 prêmios, 12 se tratavam de vouchers para suítes por 3 horas no Motel Le baron, localizado na município ribamarense, na Região Metropolitana de São Luís, mesma cidade onde o chefe do Ministério Público estadual possui residência.
Voucher é um documento ou código impresso ou eletrônico que representa um direito a um determinado produto, serviço ou benefício. Esse comprovante monetário pode ser utilizado como forma de pagamento ou como comprovante de reserva, por exemplo.
No caso dos vouchers do MP do Maranhão para o Le baron, todos tinham como validade o mês de março de 2024, sendo dois com 100% de desconto e os demais 50%. Havia também um voucher para almoço de um casal no restaurante Armazém do Chef e outro no valor de R$ 180, no D’Lucca Restaurante, ambos na capital.
Questionado por e-mail pelo ATUAL7 sobre a origem específica dos recursos para o custeio de cada brinde; o custo total com os sorteios; quem determinou as premiações; como foi feita a seleção dos estabelecimentos comerciais para os vouchers; a realização dos sorteios; e relação dos premiados, o órgão ignorou todas as perguntas enviadas pela reportagem e limitou-se a responder, via assessoria, que a PGJ e o Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência de Gênero (CAO-Mulher) organizaram uma programação alusiva ao Mês da Mulher.
“A programação inclui atividades culturais, roda de conversa sobre saúde mental, estímulo ao empreendedorismo feminino com a realização de feiras (Feira das Pretas e Esquina da Arte), campanha de doação de absorventes higiênicos para combater a insegurança menstrual, além de atendimentos para a população na unidade móvel da instituição (a programação segue em anexo). Todas as informações oficiais sobre a programação do Mês da Mulher do MPMA estão sendo amplamente divulgadas nos canais oficiais da instituição. Ressaltamos que as atividades são abertas ao público, inclusive aos veículos de imprensa”, disse.
Mesmo após insistência, não houve retorno do Ministério Público sobre os questionamentos a respeito dos vouchers.
Em contato por telefone e mensagem por aplicativo, o procurador-geral de Justiça Eduardo Nicolau alegou que não tinha conhecimento do sorteio dos brindes, apesar do anúncio ter sido feito pelo próprio gabinete da PGJ. Ele orientou à reportagem que procurasse a coordenadora do CAO-Mulher, promotora Selma Martins, apontada por ele como única responsável pela programação alusiva ao Mês da Mulher.
Embora tenha rejeitado uma tentativa de ligação feita pela reportagem, ela enviou uma mensagem como manifestação a respeito do assunto, porém com o mesmo conteúdo genérico que a assessoria do MP-MA já havia encaminhado.
Novamente procurado, Eduardo Nicolau voltou a alegar que desconhecia o sorteio dos vouchers para o motel em São José de Ribamar.
“Eu não sabia de nada, pois foi tudo tratado pelo Centro de Apoio Mulher”, declarou.
Outra vez questionado sobre quem autorizou as premiações e pagamentos pelos brindes, e se tomaria alguma medida ou não a respeito agora que teria tomado conhecimento a respeito, o chefe do Ministério Público disse que havia determinado o cancelamento de tudo.
“Nada mais, só mandei tirar os sorteios e acabar a questão”, disse, afirmando ainda que não houve qualquer pagamento pois, segundo ele, os brindes haviam sido doados e recebidos pela promotora Selma Martins.
“Não existiu dinheiro em nenhum deles, todos doados”, garantiu, sem explicar, por novamente alegar desconhecimento, como as doações teriam sido feitas e sob quais termos.