A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa do Maranhão ouviu, na quarta-feira (2), por videoconferência, moradores, gestores públicos e diretores de uma mineradora canadense instalada em Godofredo Viana, sobre os impactos causados pelo rompimento de uma barragem no povoado Lagoa do Pirocaua. A Equinonox Gold é a proprietária da mineradora Aurizona, localizada naquele município.
O presidente da Comissão, deputado Rafael Leitoa (PDT), fez uma avaliação positiva sobre a reunião virtual, realizada por solicitação do deputado Roberto Costa (MDB), que também acompanhou a videoconferência, assim como os deputados Ariston Ribeiro (Republicanos), Betel Gomes (Avante), Socorro Waquim (MDB), Zé Inácio (PT), Ciro Neto (PR), Dr. Yglésio (PROS) e Adelmo Soares (PCdoB).
Alguns moradores do povoado e integrantes da comissão do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) fizeram relatos dramáticos sobre a situação no local. “A barragem se rompeu há dois meses e o cenário é preocupante, porque as famílias estão sofrendo os impactos. A exploração de ouro é uma atividade muito destrutiva. A empresa tira 600 quilos de ouro por ano e lucro um bilhão”, garantiu Dalila, do MAB.
Cheiro ruim
De acordo com o MAB, os reservatórios do povoado estão contaminados e a empresa abastece a população com água de coloração azul e cheiro ruim, ação adotada só após a população ganhar direito a abastecimento regular, graças às famílias que entraram com ação na Justiça.
Dois moradores fizeram relatos semelhantes: Maria Valdieny Teixeira e Jonias Pinheiro. Ela disse que foi até presa por protestar contra a situação. “Moro há 29 anos no Aurizona. Aqui, todo ano tem chuvas fortes, mas só agora as canaletas se romperam, acabando com o abastecimento de água. A empresa faz relatório belíssimo, mas a comunidade sofre muito até com coceira e tumores”, denunciou.
Já Jonias Pinheiro contou que mora há 24 anos no povoado e que “a empresa só apareceu agora ao ser apertada”. “Ela sempre prometeu para a população resolver tudo e não cumpriu. Está há mais de 60 dias sem resolver os problemas”, acusou Jonias, acrescentando que o problema afeta lagoas como Cachimbo e Aurizona e os rios Aurizona e São José.
Esclarecimentos
Três gestores da empresa participaram da videoconferência, a exemplo de César Torresini, diretor de Relações Institucionais. Ele garantiu, assim como os demais, que o alagamento não ocorreu por irrresponsabilidade da empresa, mas devido a uma chuva torrencial, e que a lagoa de dejetos não foi atingida.
“Não depositamos rejeitos na Lagoa do Pirocaua. Temos uma área própria para isso e fazemos monitoramento de 15 em 15 dias. Desde que houve o alagamento, por conta de fechamento de canais de terceiros que foram isolados, impedindo a circulação de água, comunicamos o fato para as autoridades e não atuamos por decisão judicial. Foi criado um grupo emergencial para tomar medidas e fornecemos água ao povoado. Agora, vamos reformar o sistema de abastecimento de água e implantar um novo”, disse César Torresini.
O deputado Roberto Costa reforçou o pedido de visita ao local, por conta dos problemas enfrentados pela população e para conversar com os moradores da região, apesar da pandemia de Covid-19, que está impedindo a realização de eventos externos da Assembleia.
Ao final, o presidente da Comissão de Meio Ambiente, deputado Rafael Leitoa, anunciou a visita ao local e que vai tratar do assunto com o presidente da Assembleia, deputado Othelino Neto. “A reunião foi muito proveitosa, mas vamos fazer uma visita in loco, com uma audiência pública, para que a população participe e a gente faça um relatório apontando os problemas enfrentados, para que sejam solucionados o quanto antes”, explicou.